Os psiquiatras advertem: se não
for descoberta e tratada há tempo, pode culminar numa tragédia familiar, o
apoio ao paciente, é fundamental. A organização mundial da saúde estima que
existam aproximadamente 30 milhões de pessoas no mundo, com esquizofrenia.
Só no Brasil, são dois milhões. A metade não se trata, nem sabe que tem a
doença, e seus familiares pouco ou nada conhecem dela. 1.500 anos antes de
cristo, já existia a esquizofrenia. Há informações em
papiros Egípcios. A doença é complexa e assustadora, mas não é difícil
identificá-la.
Mesmo assim, um milhão de Brasileiros tem a
patologia, nunca foram diagnosticados ou tratados. Os sintomas da doença são:
isolamento social, sensação de está sendo perseguido, o exagero por alguns
assuntos como religião e filosofia, desleixo com as obrigações do trabalho ou
estudo, dificuldade para dormir, e outras mudanças comportamentais. Uma consulta com um
psiquiatra, o transtorno será identificado num curto espaço de tempo. A doença mental embora antiga, ela só apareceu
na literatura médica no início do século XIX, depois de cem anos de estudos. No
século XX foi batizada com o nome de Esquizofrenia, pelo psiquiatra suíço
Eugen
Beuler.
Ficou constatado que é uma doença do cérebro, sua causa ainda
é desconhecida, mas sabe-se que é uma combinação de fatores ambientais, e
genéticos. A doença pode induzir a pessoa a cometer suicídio, matar os pais, os
irmãos e amigos. O transtorno mental pode evoluir para um quadro de crises, o
doente passa a sofrer alucinações, ver assombrações, ouvir vozes, a partir daí,
ele e quem conviver com ele, estará correndo risco de vida, se não for feito tratamento.
O tratamento é imprescindível, para que não aconteçam tragédias. O caso mais
recente aconteceu com o famoso Eduardo Coutinho, mais conhecido por
Coutinho,
e a sua mulher Maria das Dores, conhecida também, por Dorinha. O casal teve
dois filhos, Pedro e Daniel. Cresceram estudaram juntos,
a diferença de idade entre eles, era apenas de um ano.
O pai vivia sempre
viajando como produtor e diretor de cinema, os filhos viviam sobre os cuidados
da mãe, mas tudo transcorria normalmente. Depois dos oito anos, os dois irmãos
começaram a discutir e brigar muito. Como brigas entre irmãos são comuns, a mãe
achava aquilo natural, e a vida continuava. As brigas foram ficando mais
acirradas, o irmão Pedro entendia que constantemente era provocado pelo irmão Daniel.
Pedro
resolveu cortar o relacionamento, para evitar as brigas. Pedro deixou a casa dos pais com 26
anos, para assumir uma vaga de promotor de justiça na cidade de sapucaia, a 150
quilômetros do Rio, na divisa com Minas Gerais. Daniel continuou morando
com os pais, formou-se em jornalismo, depois de seis anos na faculdade.
O pai continuava viajando, Daniel morava com a mãe,
e não trabalhava. Ele tinha dificuldade de relacionamento, e poucos amigos.
Perdeu três amigos num curto espaço de tempo, um morreu de um defeito congênito
no coração, outro num acidente de carro, o terceiro foi assassinado numa
disputa por drogas. Com a perda dos amigos, em apenas seis meses, Daniel
dizia que não queria ter mais amigos, isolou-se, ficou mais agressivo com a
mãe, devido nunca ter recebido tratamento, o transtorno passou para um estágio
agudo chamado de esquizofrenia paranóide, a
cada dia a situação só se agravava, tinha medo de ser internado, a vida
continuava, mas a tragédia estava para acontecer, sem que fosse tomada nenhuma atitude, poderia chegar
a um desfecho aterrorizante. A mãe culpava o pai por não dá emprego ao filho. O
pai falava que ela não entendia que ele não tinha condições de trabalhar, e precisava
fazer um tratamento. Daniel já havia trabalhado com o pai
no filme Babilônia 2000, no morro do chapéu Mangueira,
onde Coutinho
colocou cinco equipes de filmagem. Daniel era relapso, destraía-se
demais, desagregava a equipe.
O pai sentiu que não
daria certo, e decidiu dispensá-lo. Daniel ainda tentou outros empregos,
também não deram certos. Isolou-se em casa, quase não saia do quarto, lia cinco
seis livros ao mesmo tempo, um pouco de cada um. Em casa o ambiente se
deteriorava, num ar saturado de tensão. Coutinho tinha medo de que o filho
por uma razão qualquer se suicidasse. O pai vivendo um dilema pensava de
interná-lo, mas imaginava que a situação podia piorar, porque Daniel sempre
pediu para não ser internado.
Tragicamente, optou por deixar as coisas como estavam. Os
últimos dias foram angustiantes. Duas semanas antes do crime, Daniel
falou para a mãe, que queria se matar. Assustada com a confissão de suicídio, a
mãe usou o seguinte argumento para demovê-lo da ideia. Alegou que a presença
dele era fundamental para ajudá-la a cuidar do pai, que a saúde dele estava se debilitando,
devido á idade. Delirantemente, Daniel contou depois, que a melhor
forma de cuidar dos pais, era matá-los, e em seguida, suicidar-se. Nem Pedro
sabe dizer porque Daniel nunca foi diagnosticado, e tratado.
"Esse era um assunto sempre
doloroso na família”, diz. A tolerância da família pode ter sido resultado
daquela esperança ingênua que tudo será resolvido com o tempo. Há provas, de
que três vezes a família procurou ajuda psiquiátrica, mas Daniel não comparecia
as consultas. Era uma esplêndida manhã de domingo, quando Daniel entrou no quarto
dos pais com uma faca na mão. Primeiro dirigiu-se á mãe. Ela dormia em um
colchonete no chão. De cócoras, ele pegou-a por trás. Seguro-a pelo ombro com a
mão esquerda. Com a direita, cravou-lhe a primeira facada, na altura do seio
esquerdo. A mãe começou a gritar, acordando o marido que dormia na cama.
Ela desvencilhou-se do
filho, fugiu para a cozinha. Na fuga, caiu. O filho desferiu-lhe novos golpes.
Livrou-se dele outra vez, correu para o telefone, caiu de novo. Queria uma
chave para trancar-se em algum cômodo, alcançou o banheiro, refugiou-se ali,
ensanguentada, gritando sem parar, pegou o telefone e ligou para o filho Pedro.
Tomada de pânico, pediu socorro que o filho Daniel havia tentado
matá-la, estava trancada num banheiro toda furada e ensanguentada, e não
sabia o que poderia ter acontecido com o pai dele.
O filho surpreendido
pediu que ela repetisse de novo, o que havia falado. Ela desesperada, repetiu,
e pediu socorro urgente. Pedro avisou a mãe que desceria a
serra imediatamente, em direção ao rio de janeiro, e desligou. Daniel
depois de tentar matar a mãe, atacou o pai dando-lhe duas facadas na barriga, o
corpo caiu inerte, debruçado sobre uma poça de sangue no chão da sala. Daniel
confessou que ouvia uma voz dizer-lhe. Depois que você matar seus pais, dê só
uma facada na sua barriga, que você morrerá. Ele deu duas, e não morreu. Dorinha
a mãe de Pedro e Daniel, foi internada em dois
hospitais, depois de muitas cirurgias e várias cicatrizes, uma com mais de
cinquenta pontos, sobreviveu, mas vive traumatizada. Tem medo de visitar Daniel
sozinha, sempre leva a sua irmã Rita.
As visitas lhe fazem
mal. Volta para casa arrasada. O irmão Pedro, luta em silêncio para não
deixar a tragédia definir a sua vida. “Talvez uma hora, eu consiga visitar Daniel”,
disse ele, mais recomposto, agora que a tragédia fez um ano. Daniel
não dá entrevistas, não recebe amigos da família e, mesmo quando a mãe vai
visitá-lo, fica impaciente e ansioso para que logo seja encerrada a conversa.
Pediu ao seu advogado, que só voltasse a conversar com ele, depois do
julgamento.
Daniel pode ser levado ao
tribunal do júri, ou ser sentenciado a cumprir pena de internação de um a três
anos, num manicômio judicial. Aos 80 anos, o consagrado cineasta Ricardo
Coutinho diretor do premiado Cabra Marcado para
morrer,
mais sete filmes de ficção, e 22 documentários. Foi assassinado pelo
filho Daniel de 46 anos, que ainda morava com seus Pais. Só para lembrar, um
dia pela manhã seus pais ainda dormiam, Daniel sofreu um surto psicótico
causado pela esquizofrenia que nunca foi tratada, esfaqueou a sua mãe, e
matou o pai com duas facadas, e tentou se matar.
No magnífico
; Os
Irmãos Karamazove, o escritor Russo
Dostoievski narra o
assassinato do pai pelo seu primogênito
. A metamorfose, o escritor
Franz
Kafka, fala do personagem
Gregor que se isolou dentro de um
quarto, e imaginava que era uma barata, de tão perturbado adormeceu, e morreu dormindo.
Para
Sêneca Filósofo e Pensador,
o parricídio é um crime que faz qualquer ser humano tremer de horror. A fonte
para pesquisa da tragédia que aconteceu com a família
Coutinho foi da revista
Veja, Editora Abril, edição 2412 de 11 de fevereiro de 2015. A matéria foi
escrita, por
André Petry, que merece parabéns pela excelente reportagem.
Brasília, 06 de março de 2015.
João Lúcio Filho.