A degradação dos valores societários.
Não há como se falar em processo de desenvolvimento social quando o que
se vê é o processo de deterioração dos princípios e valores básicos de
sustentação da sociedade. Este texto tentará alinhar algumas breves
considerações do que para nós se apresenta com lamentáveis evidências deste
entendimento.
Paul Eugene Charbonneau enfatiza:
“Toda vida é um ritmo; todo ritmo é uma ordem; toda ordem é o reconhecimento de
valores definidos”. Acrescentamos: estabelecidos de forma universalizada num
contexto social, observado, respeitado e seguido por todos os integrantes desse
sistema, independentemente das sanções que recairão sobre aqueles que fugirem à
sua observação.
Quando os valores elementares que
devem permear o sistema e serem observados por todos os componentes da
sociedade naufragam, não se pode falar em desenvolvimento, tenha este qualquer
dimensão na análise, mesmo sabendo que o processo de desenvolvimento é
assimétrico.
Nos contextos sociais, o ser humano
é marcado por dois grandes polos: nascimento e morte. É o ciclo da vida, apenas
diferenciado de indivíduo para indivíduo. O primeiro, sinalizando o início da
incorporação dos valores existentes e transmitidos pelos pais, pela família,
pela escola, pela comunidade e pelos demais aparatos públicos ou não. O
segundo, quase sempre de arrependimento pelos valores praticados, pela
consciência tardia de que não foram positivos e contrários aos ensinamentos do
homem e dos códigos estabelecidos, senão
ao medo do Deus maior na hora do vamos agora ver como é que foi sua
trajetória de vida.
Aqui vou citar Jonh W. Gardner,
escritor e educador. Ele cunhou uma frase que se apresenta ambígua: “Algumas
pessoas fortalecem a sociedade simplesmente por serem o que são”. Será? E se a
pessoa for mal e só praticar valores contraditórios às leis de Deus e mesmo aos
estabelecidos na sociedade para serem seguidos por todos?
Em tudo o que fazemos e dizemos,
temos que ter por fundamento para o nosso comportamento os valores sadios
consagrados na lei do Senhor. Nosso objetivo de vida é a prática do bem comum
que não aceita valores deturpados. Como Cristo nos ensinou, devem todos àqueles
que acreditam no Senhor se esforçar para que a honestidade e a observância dos
valores seja a forma motriz do nosso comportamento.
Lamentavelmente, o que se vê no
âmbito da nossa sociedade, que deveria ser a observância de valores
fundamentais como responsabilidade, integridade, honestidade, pontualidade,
seriedade, colaboração e solidariedade para ser a inobservância e a
fragilização de alguns e até mesmo descaso de outros tantos, até mesmo dos
demais estabelecidos.
Principalmente nos ambientes de
recreação e de lazer, assim como nos diversos componentes da mídia, é comum
observar-se a transgressão desses valores. Como são meios de elevada aceitação
no âmbito comunitário, a sua prática normaliza-se e se internaliza, não mais
apenas nas atitudes dos indivíduos, como também passam a ser regras de conduta
nos respectivos comportamentos e se espraiam por efeitos de irradiação. Essa
exemplificação, evidentemente, não está como componente disseminado pelos
diversos segmentos extratos da nossa sociedade. Felizmente, ainda o colapso não
é total.
Entretanto, vale esclarecer que se
elas forem boas, suas influências serão positivas. No entanto, se forem más,
suas influências serão negativas. Aqui, então esta questão é dos quantitativos
para pendular a balança. Acredito que o peso maior ainda seja o positivo, mesmo
sendo pouca diferença. Quando certas práticas atitudinais e comportamentais
como mentira, impontualidade, descompromisso e desonestidade estão disseminadas
na ambiência social, fica temerário antecipar prognósticos. Somente uma
pesquisa ampla, difusa e muito bem elaborada poderá evidenciar uma efetiva
realidade concreta. Tememos, no entanto, que os resultados não venham a ser
aqueles que gostaríamos de obter.
Essa análise da nossa realidade pode
ser mudada? É claro que sim. Não apenas pode como deve ser mudada. E o que
fazer, então? Entendo que são duas as vertentes da mudança. 1. A parte sadia da sociedade,
mesmo que reduzida, reagir e defender o que Emmanuel Kant escreve em Antropologia
do ponto de vista pragmático: “Poder com liberdade e observância da lei
é fundamento da República e da democracia”. 2. Aos governantes em ação, que
concentram o poder em suas mãos, agir em consonância com as práticas alardeadas
pelos respectivos partidos e nas campanhas eleitorais. Também nos juramentos
que fazem quando da posse em cargos ou funções para quais são escolhidos.
Infelizmente, no nosso País, o cerne
do poder público vem mantendo, estimulando e referendando a legitimação de
valores não adequados aos interesses societários, neste crime de lesa-pátria
que remonta praticamente ao primeiro período do Brasil colônia e que vem
avolumando de forma exponencial ao longo desses poucos séculos da nossa
existência. É preciso dar um basta nestas práticas que de tão maléficas são
abomináveis por toda sociedade.
Quem tem o poder
e a força do Estado em suas mãos, não tem o direito de exercê-los em beneficio próprio.
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Brasília,
04 de agosto de 2015.
João Lúcio Filho.
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